quinta-feira, 6 de junho de 2013

O melhor e o pior do Caraça

Há muitos anos que eu tinha vontade de visitar o Caraça.


A primeira vez que ouvi falar foi numa aula de espanhol, por um casal colega aqui do tribunal.
Foi ouvir a expressão "lobo guará" que minha alma se inflamou. Eu adoro estes passeios (e a emoção deles decorrente) de ver os animais livres no seu ambiente. Eu não curto muito zoológicos (o de Brasília é uma exceção) nem aquários, mas amo ver bichinhos soltos por aí. Pensando bem, nem de museus de história natural eu gosto.
Mas dar de cara com uma ursa e seus dois filhotes no Sequoia National Park? Formidável!
E mergulhar no mar, rodeada de golfinhos?
Ou estar no mar, num barquinho, do lado de umas baleias?
É, vivi situações incríveis e encontrei com muitos animaizinhos por aí. De alces a jacarés, passando por raposas, bichos-preguiça, capivaras, veados, macacos, tamanduás... Sem contar os esquilos, lebres, quatis e tatus. E a passarada de forma geral.
No mar também é mágico: tubarões, polvos, lagostas, peixes de todas as espécies, moréias, tartarugas, arraias, cavalos marinhos...
Gosto demais!
Pois então: com toda essa paixão e com as minhas muitas andanças por aí, eu nunca tinha visto um lobo guará assim ao vivo, livre. E é um dos mamíferos mais bonitinhos que conheço...


Lembro que no mesmo dia comentei com o Roger e ele também se animou.
Só que o lugar era cheio. Ou a gente resolvia sempre em cima da hora, não sei.
Além disso, os destinos-desejo são muitos e foram necessários muitos caminhos  antes de chegarmos lá.
O Santuário do Caraça é uma Reserva Particular do Patrimônio Natural localizada em Catas Altas, a 120 km de Belo Horizonte. Com vegetação do cerrado e da mata atlântica, a área tem várias cachoeiras, picos e grutas. As trilhas entre belas montanhas evocam os caminhos dos bandeirantes na época do ciclo do ouro no Brasil.


Outros atrativo é o complexo arquitetônico formado pelo Santuário de Nossa Senhora Mãe dos Homens, pelo mosteiro e pelas ruínas do colégio, que sofreu um incêndio em 1968.


A igreja neogótica tem vitrais franceses (um deles doado por Dom Pedro II) e um órgão imenso, todo construído artesanalmente com madeira da região. Também podem ser visitados o claustro, as catacumbas, o calvário com túmulos, o muro da antiga senzala e a casa das Sampaias  (local onde dormiam as funcionárias do seminário).


O que restou do antigo colégio foi transformado em um simpático museu, com antigas peças de claustro e de uso diário, relíquias da visita do imperador Pedro II e exemplares de livros dos séculos XVI, XVII e XVIII.


Também é legal fazer uma visitinha a Catas Altas, com seu casario antigo, a arquitetura barroca da Igreja da Matriz e a casa do ex-Presidente da República Afonso Pena.


Mas o que vale mesmo, de verdade, é ver os lobos.
A expectativa começa com as eventuais pegadas pelos caminhos. Pequenas, ovaladas, com uma almofadinha e quatro dedos com unhas compridas...


Logo depois do jantar, os hóspedes se alojam como podem no adro da igreja e esperam pelo ritual que começou em 1982. Uma bandeja com carne e frutas é colocada no meio do pátio e, de repente, lá vem o guará subindo a escada. Ninguém pisca. Ele vem devagar, ressabiado, as orelhas se movimentando como um radar... Às vezes, se assusta e desce. Mas depois sobe de novo e vem comer o jantar...

É indescritível!
Tão lindo... e bem pertinho... Puro êxtase.
Quer saber mais sobre eles? Clique aqui.


O santuário oferece duas opções de hospedagem: A Pousada do Caraça e a Pousada Fazenda do Engenho. Ambas ficam dentro do parque, que é o melhor lugar para ficar (único que permite a convivência noturna com os lobos). Para ficar na fazenda é preciso estar de carro e não ter preguiça, porque os principais atrativos e o restaurante que serve o almoço e o jantar ficam na sede. Foi onde nos hospedamos e não me arrependi nem um pouco: é muito mais tranquilo e silencioso. Além do café da manhã, é servido um lanche à noite, com café, chá e biscoitos caseiros.


As acomodações das duas pousadas são bem simples, sem ventilador, ar-condicionado, televisão ou telefone, mas nada que chegue a atrapalhar. O que, realmente, não me agradou foram as refeições servidas na sede. Em grandes mesas de madeira compartilhadas, funciona o self-service de comida caseira. O sabor não chega a ser ruim, só que é tudo muito engordurado e o cardápio é franciscano.
O pior, porém, não é nem a comida. O que mais me incomodou foi a desorganização, o tumulto. Você tem que lutar por um lugar, lutar para conseguir se servir. Tudo muito difícil.
A louça usada deveria ser recolhida pelos próprios hóspedes, ao terminarem a refeição. Infelizmente, nem todos fazem isso e ainda tem os que deixam a mesa cheia de sobras de comida, guardanapos embolados... Um nojo!
Com frequência a espera pela reposição de comida é longa e formam-se grandes aglomerados em volta do fogão de lenha. Quando o item chega, é uma disputa acirrada e não poucas pessoas saem com o prato lotado para abastecerem seus companheiros que ficaram esperando nas mesas. E aí que nem todo mundo que estava esperando consegue se servir e já continua lá esperando a próxima reposição. Detestei! Foi definitivamente o pior do passeio. Quase dá para quebrar a magia do encontro com um bichinho desses:


Aqui tem mais fotos.

   

5 comentários:

  1. As suas fotos são belíssimas, realmente o Mosteiro do Caraça é um lugar muito especial.
    Em relação ao seu comentário sobre a comida e as refeições, é uma experiência muito particular e acho que você até deveria passar as suas observações para os administradores, o que contribuiria para a melhoria dos serviços.
    E como cada um de nós vive a sua experiência, prefiro ficar com o que há de positivo, que nem preciso enumerar, pois as imagens que fez do local dizem por si só. E nada quebraria a magia do encontro com o lobo Guará, uma vivência única e emocionante.
    Quando aprendemos a olhar para o que há de positivo, não enxergamos o negativo ou então aproveitamos para aprender com eles também. Aprendemos a desapegar dos nossos conceitos pré-concebidos e aproveitamos a vida de maneira plena, com muita gratidão.
    Eu não estou escrevendo isto para você, é mais para mim mesma. A sua observação apenas me mostrou que inúmeras vezes agimos assim, numa postura de cobrar e exigir porque pagamos. É preciso ir além da nossa individualidade e enxergamos os outros.

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Oi, Maria. Obrigada por sua visita! E por seus elogios para as fotos... Fico feliz que elas tenham conseguido retratar a magnífica experiência que é uma visita ao Caraça, e mais que tudo, o encontro com os lobos.
      Quanto às refeições, minha experiência realmente não foi boa. Como você deve ter notado, eu não achei que esse quesito estragou o passeio, mas que solucionadas algumas deficiências seria possível aproveitar muito mais a visita.
      Também ressaltei que o maior problema era a falta de cortesia dos hóspedes, que deixavam as mesas sujas, não recolhiam as louças e monopolizavam os pratos repostos no fogão a lenha. E penso que a administração do lugar poderia minimizar esses inconvenientes com um pouco mais de organização. Quem sabe estabelecer turnos para o almoço, evitando assim a concentração de todos os hóspedes no mesmo horário.
      Confesso para você que fico mais feliz quando posso fazer a refeição (que não precisa ser de luxo não, pelo contrário) num ambiente tranquilo e desfrutando do momento.
      Novamente agradeço sua visita e a convido para passear mais pelo site. Grande abraço.

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  2. Olá Márcia,

    Estive no Mosteiro do Caraça novamente, no feriado de Carnaval, desta vez apenas por um dia, pois fiquei hospedada em uma Pousada próxima.
    E talvez, por ter tido uma vivência mais atual e por ter lido sobre a sua experiência, observei que muitos dos hóspedes e visitantes não retiram os pratos e talheres, etc da mesa e realmente fica desorganizado, mas também não tem uma orientação clara que se deve fazer isto. Então, para quem está indo pela primeira vez fica meio perdido, a não ser que seja uma pessoa observadora e atenta e aí vai perceber como se deveria ou seria desejável que se fizesse.
    Mas achei uma questão mais, digamos complicada. O acesso para transitar pelo Mosteiro para idosos com limitações de saúde e deficientes é muito difícil, constatei isto, porque levamos a minha mãe, que tem 84 anos e tem Alzheimer. A subida para o refeitório que tem somente escada de acesso foi muito penosa, assim como para utilizar o banheiro, com enorme degrau para subir e com porta estreita. Fiquei triste por perceber que o Mosteiro não é mais viável para levá-la. Mas farei, ainda não tive tempo, estas observações para os administradores, pois pode ser que consiga sensibilizá-los, pois o local recebe inúmeras pessoas e grande parte dela idosas.
    Desta vez a minha visita foi muito breve e nem vi o lobo, mas a magia do Mosteiro do Caraça que lhe encantou e a mim também permanece como um lugar muito especial e que poderia ficar ainda mais com estes pequenos ajustes que você percebeu e que eu também vivenciei.
    Abraço e obrigada pelo compartilhamento.

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    1. Olá, Maria.
      Que bom que teve oportunidade de visitar o Caraça de novo. Eu ainda não estive lá novamente.
      Concordo com você que devemos sempre contar nossas impressões para os administradores, pois, assim, não ficamos só "detonando" os lugares mas lhes damos a oportunidade de melhorar. Tenho certeza que, na maioria das vezes, eles apenas não se deram conta das coisas que nos desagradaram e vão se esforçar para corrigir as falhas.
      Grande abraço.

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