quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Los Roques - Paraíso na Venezuela


Antes de falar do paraíso, vou contar para vocês sobre a ante-sala. Do paraíso ou do inferno?
Geograficamente, ante-sala do paraíso. Mais parecida, porém, com a ante-sala do inferno. Ou pior, com o próprio inferno.

Caracas!

A cidade não tem atrativos e ainda é feia e suja. O trânsito é um caos e há várias favelas. Iguaizinhas às nossas.


Você pode me perguntar: - mas que diabos vocês foram fazer em Caracas?
E daí é que te conto que para nós é impossível passar numa cidade que ainda não conhecemos e não dar ao menos uma olhadinha. Impossível, uma coisa muito mais forte do que nós...
Geralmente não nos arrependemos. Mesmo em Caracas, não deu para arrepender. Serviu para comprovar que lá não tem nada que valha a pena.
O aeroporto internacional é razoavelmente organizado e tem muitas propagandas do governo. Já o nacional, é uma bagunça. O check-in é muito lento, as salas de embarque são uma confusão. Tudo desorganizado ao extremo.


Recomendo a quem estiver de passagem que fique hospedado próximo ao aeroporto. O hotel Eurobuilding Express tem quartos amplos e o shuttle para o aeroporto funciona perfeitamente, o que é uma grande vantagem, já que os táxis não são nada seguros por lá. Para comer, também vale ficar pelo hotel mesmo. O restaurante Mr. Grill tem carnes, risotos, frutos do mar e massas e é, no geral, melhor do que a maioria dos restaurantes de hotel.
O percurso entre o aeroporto e a cidade é de cerca de 20 km. Com trânsito tranquilo, é possível gastar apenas 45 minutos no deslocamento, mas este percurso pode demorar fácil 2 horas, 3 horas...

O que fizemos de melhorzinho em Caracas foi o passeio ao monte El Ávila. De quebra, um gostoso lanche no El Merendero de Fanny, em Boca del Tigre, só com comidinhas típicas e suco de amora.


Cachapa - massa de milho assada na chapa como se fosse uma panqueca, com recheio de queijo


Hallaca - espécie de pamonha cozida na folha de bananeira, recheada com três tipos de carne, vegetais, temperos e especiarias, típica do período natalino.


Arepas - bolinho frito com massa de farinha de milho, de formato achatado, que é servido puro ou recheado: com queijo, manteiga, ovos, carne...


Tequeños - palitos de queijo envoltos em massa e fritos 


Golfeados - Pãezinhos enrolados com recheio de queijo e melado e temperados com especiarias.



O passeio até a cidadezinha colonial de El Hatillo só vale a pena para quem estiver muito à toa. É bonitinha e bem perto... mas nada demais.


Superado o horror de Caracas, vamos falar sobre o paraíso, certo?

A primeira vez que ouvi o nome, foi em julho de 2011. No mesmo dia, fiz uma pesquisa rápida na internet e adicionei, imediatamente, na minha lista de desejos.
Pois bem, mais de um ano depois chegou sua vez.


Nossa saída para Los Roques atrasou 3 horas, sem que houvesse qualquer explicação por parte da companhia ou de quem quer que seja. O avião só tinha 48 lugares. Não há assento marcado e o ar condicionada raramente funciona. Mas são apenas 45 minutos de voo e a chegada é deslumbrante, se você conseguir ver alguma coisa. Vale a pena pedir ao comissário, logo no começo da viagem, para ver a chegada na cabine do piloto. Pena que não permitem mais de uma pessoa por vez.


O desembarque é na pista mesmo e de lá direto para uma guarita, onde é cobrada a taxa de 180 bolívares, já que o local é um parque nacional. Saindo do portão, bem ao lado, já estão os carregadores das pousadas procurando seus hóspedes.
A maior das ilhas é Gran Roque, com uma pequeníssima vila, muitas pousadas, algum comércio e uma pracinha. Tudo muito simples, com a cara de Jericoacoara nos anos 80: os chuveiros são frios, falta energia todos os dias...

Ficamos na Pousada Piano y Papaya, aos cuidados da atenciosa África (sim, este é o nome da gerente!). Nada de luxo, mas eles providenciavam tudo que precisávamos: passeios diários, caixas térmicas com bebidas e lanches e até flores e bolo no dia do meu aniversário.
O café da manhã era, alternadamente, continental e venezuelano. No menu continental, panquecas com mapple; no venezuelano, arepas e ovos mexidos. De resto: 1 tipo de suco, leite, café, pão, manteiga, geleia,  mel e bolo.

Todos os passeios são feitos de barco e dá para variar bastante, porque são muitas ilhas e bancos de areia. A maioria deles não tem nada para comer ou beber, é preciso ir prevenido. O sol é inclemente, mas os próprios barqueiros montam seu guarda sol e levam cadeiras.
As caixas térmicas de almoço da Piano y Papaya incluíam uma fruta, um lanche (wrap ou omelete), uma garrafa de água mineral e três latas de bebidas. Era a única oportunidade de comer frutas.

Mais próximos de Gran Roque estão Madrisqui e Francisqui. Ambos tem onde comer, mas o restaurante de Madrisqui é muito contramão. Não recomendo de formar alguma. Já em Francisqui comemos uma lagosta fenomenal. Vale a pena.


Dos Mosquices ou La Tortuga tem um centro de pesquisa e preservação de tartarugas. Não tem o glamour do nosso projeto Tamar, mas é bonitinho. É bem legar colocar o dedo no tanque dos filhotes de tartarugas carnívoras e ver como elas alucinam e vem correndo te morder.



Cayo de Água é belíssima. Duas ilhotas ligadas por uma estreita faixa de areia que fica coberta pelo mar na maré alta. Areia muito branca, água muito clara. Uma delícia!


Sarqui, Espenqui, Norosqui, Rabusqui... Todas muito bonitas e de águas mornas, cada uma com seus animais de estimação. Sarqui é a praia das tartarugas, Espenqui é conhecida pela quantidade e tamanho das estrelas do mar.


Destaque para Crasqui, que lá na ponta tem uma praia nota 10 com louvor.


Boca de Sebastopol e Cayo Muerto são pequenos bancos de areia que, com um pouco de sorte, você vai dividir só com mais 1 ou 2 guarda sóis.


Carenero também é uma praia e tanto.


E ainda tem um pescador que cozinha lagosta e frita peixe e os serve acompanhados por arroz, ceviche e arepas, tudo por um preço muito bom. Se resolver comer por lá, o interessante é ir até a típica varanda pelo menos na hora da refeição. Aquele esquema de pedir que a comida seja levada até a praia é a maior furada, porque o percurso é um pouco longo e aí a lagosta chega gelada. Ah! E um detalhe: leve sua própria bebida porque lá não tem para vender.


Mergulhamos com cilindro em Boca de Cote e Las Gatas. Água quente (fui só de camiseta, sem neoprene), visibilidade enorme, flora bacana, tartaruga, tubarão e muitos peixinhos. Mas perde para Noronha, indiscutivelmente.

Os pássaros, de várias espécies, estão por todo o arquipélago e dão vida à paisagem. Los Bobos é um grande criadouro.


Em Gran Roque, não há muitas opções de restaurante. Por isso, a maioria das pousadas oferece a opção de meia pensão.
Jantamos alguns dias na Piano y Papaya. Alguns prato eram muito bons, outros eram apenas normais. Fizeram parte do cardápio: ceviche, peixe (pecho) grelhado com batatas ou com salada, pasta com berinjelas, peixe assado com alcaparras e vegetais, pasta com abobrinha e bacon, gelado de banana e maracujá, quesillo (nada mais que nosso pudim de leite) e taça melba.
O restaurante Aquarena é bem bom, embora o serviço seja bem lento. A salada de queijo de cabra e os rolls são maravilhosos. O atum (fresquíssimo) grelhado é correto, mas a massa com frutos do mar deixou a desejar. A seleção musical também é bacana e tem uma lojinha com coisas bonitas. A única da ilha.
O melhor peixe grelhado do mundo comi na pousada Bora la Mar. Lá D. Marta prepara ótimas entradinhas e o fenomenal pargo grelhado, que comemos acompanhado de salada, arroz com açafrão e massa ao pesto.

Eu andava bem desacostumada de fazer câmbio na rua, mas a Venezuela ainda vive na época do câmbio negro. Se nas casas de câmbio, o valor de 1 dólar é de 3 bolívares, no câmbio negro ele vale 11 ou 12. Isso é quatro vezes mais... Incrível! O fato é que os cambistas estão por toda parte: no aeroporto, no hotel, nas lojas, nos táxis, nos restaurantes... Em Los Roques, o melhor câmbio era na farmácia. E o valor não diferia muito do encontrado em Caracas. E para cálculo dos preços, o valor usual é de 10 bolívares.

E os preços? Relacionei alguns para dar uma ideia.
- jantar na pousada: 300 Bs
- lunch box na pousada: 140 Bs
- passeio de barco a Cayo de Água ou a Sarqui e Carenero (ida e volta): 200 Bs
- lagosta em Francisqui: 350 Bs o quilo
- saída com dois mergulhos + equipamentos: 950 Bs
- jantar no Aquarena (média): 275 Bs
- jantar no Bora La Mar (média): 193 Bs

A bagagem é bem básica: chinelo, short e camiseta; biquíni e chapéu; filtro solar e repelente; um vestidinho. Todo o resto é absurdamente excessivo.
Na maioria das pousadas, o banho e frio. E falta luz, quase todos os dias. Por sorte, a nossa tinha gerador.

Com tudo isso, por tudo isso ou apesar de tudo isso Los Roques é mesmo um paraíso.
É para quem gosta de praia. Mesmo. Nada de piscinas e resorts. Nada de broadway, passarela do álcool ou ruazinha do centro com lojas de grife.
E, obviamente, não vai funcionar para quem tem algum medo ou mesmo inimizade com água. E para quem não se sente à vontade em um barco.
Não há calçamento. A vida é no mar; seja com snorkel ou cilindro.

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