Há muitos anos que eu tinha vontade de visitar o
Caraça.
A primeira vez que ouvi falar foi numa aula de espanhol, por um casal colega aqui do tribunal.
Foi ouvir a expressão "lobo guará" que minha alma se inflamou. Eu adoro estes passeios (e a emoção deles decorrente) de ver os animais livres no seu ambiente. Eu não curto muito zoológicos (o de Brasília é uma exceção) nem aquários, mas amo ver bichinhos soltos por aí. Pensando bem, nem de museus de história natural eu gosto.
Mas dar de cara com uma ursa e seus dois filhotes no Sequoia National Park? Formidável!
E mergulhar no mar, rodeada de golfinhos?
Ou estar no mar, num barquinho, do lado de umas baleias?
É, vivi situações incríveis e encontrei com muitos animaizinhos por aí. De alces a jacarés, passando por raposas, bichos-preguiça, capivaras, veados, macacos, tamanduás... Sem contar os esquilos, lebres, quatis e tatus. E a passarada de forma geral.
No mar também é mágico: tubarões, polvos, lagostas, peixes de todas as espécies, moréias, tartarugas, arraias, cavalos marinhos...
Pois então: com toda essa paixão e com as minhas muitas andanças por aí, eu nunca tinha visto um lobo guará assim ao vivo, livre. E é um dos mamíferos mais bonitinhos que conheço...
Lembro que no mesmo dia comentei com o Roger e ele também se animou.
Só que o lugar era cheio. Ou a gente resolvia sempre em cima da hora, não sei.
Além disso, os destinos-desejo são muitos e foram necessários muitos caminhos antes de chegarmos lá.
O Santuário do Caraça é uma Reserva Particular do Patrimônio Natural localizada em Catas Altas, a 120 km de Belo Horizonte. Com vegetação do cerrado e da mata atlântica, a área tem várias cachoeiras, picos e grutas. As trilhas entre belas montanhas evocam os caminhos dos bandeirantes na época do ciclo do ouro no Brasil.
Outros atrativo é o complexo arquitetônico formado pelo Santuário de Nossa Senhora Mãe dos Homens, pelo mosteiro e pelas ruínas do colégio, que sofreu um incêndio em 1968.
A igreja neogótica tem vitrais franceses (um deles doado por Dom Pedro II) e um órgão imenso, todo construído artesanalmente com madeira da região. Também podem ser visitados o claustro, as catacumbas, o calvário com túmulos, o muro da antiga senzala e a casa das Sampaias (local onde dormiam as funcionárias do seminário).
O que restou do antigo colégio foi transformado em um simpático museu, com antigas peças de claustro e de uso diário, relíquias da visita do imperador Pedro II e exemplares de livros dos séculos XVI, XVII e XVIII.
Também é legal fazer uma visitinha a Catas Altas, com seu casario antigo, a arquitetura barroca da Igreja da Matriz e a casa do ex-Presidente da República Afonso Pena.
Mas o que vale mesmo, de verdade, é ver os lobos.
A expectativa começa com as eventuais pegadas pelos caminhos. Pequenas, ovaladas, com uma almofadinha e quatro dedos com unhas compridas...
Logo depois do jantar, os hóspedes se alojam como podem no adro da igreja e esperam pelo ritual que começou em 1982. Uma bandeja com carne e frutas é colocada no meio do pátio e, de repente, lá vem o guará subindo a escada. Ninguém pisca. Ele vem devagar, ressabiado, as orelhas se movimentando como um radar... Às vezes, se assusta e desce. Mas depois sobe de novo e vem comer o jantar...
É indescritível!
Tão lindo... e bem pertinho... Puro êxtase.
Quer saber mais sobre eles? Clique
aqui.
O santuário oferece duas
opções de hospedagem: A Pousada do Caraça e a Pousada Fazenda do Engenho. Ambas ficam dentro do parque, que é o melhor lugar para ficar (único que permite a convivência noturna com os lobos). Para ficar na fazenda é preciso estar de carro e não ter preguiça, porque os principais atrativos e o restaurante que serve o almoço e o jantar ficam na sede. Foi onde nos hospedamos e não me arrependi nem um pouco: é muito mais tranquilo e silencioso. Além do café da manhã, é servido um lanche à noite, com café, chá e biscoitos caseiros.
As acomodações das duas pousadas são bem simples, sem ventilador, ar-condicionado, televisão ou telefone, mas nada que chegue a atrapalhar. O que, realmente, não me agradou foram as refeições servidas na sede. Em grandes mesas de madeira compartilhadas, funciona o self-service de comida caseira. O sabor não chega a ser ruim, só que é tudo muito engordurado e o cardápio é franciscano.
O pior, porém, não é nem a comida. O que mais me incomodou foi a desorganização, o tumulto. Você tem que lutar por um lugar, lutar para conseguir se servir. Tudo muito difícil.
A louça usada deveria ser recolhida pelos próprios hóspedes, ao terminarem a refeição. Infelizmente, nem todos fazem isso e ainda tem os que deixam a mesa cheia de sobras de comida, guardanapos embolados... Um nojo!
Com frequência a espera pela reposição de comida é longa e formam-se grandes aglomerados em volta do fogão de lenha. Quando o item chega, é uma disputa acirrada e não poucas pessoas saem com o prato lotado para abastecerem seus companheiros que ficaram esperando nas mesas. E aí que nem todo mundo que estava esperando consegue se servir e já continua lá esperando a próxima reposição. Detestei! Foi definitivamente o pior do passeio. Quase dá para quebrar a magia do encontro com um bichinho desses: